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Fluxo de Caixa – Guia de Gestão

Bruno Haas

Introdução

O que é?

O fluxo de caixa é uma das ferramentas essenciais para garantir a boa gestão financeira e o equilíbrio do seu negócio. Seu fundamento está no registro das movimentações financeiras (entradas, saídas, contas a pagar e a receber). Mais do que um controle, o fluxo de caixa tem um papel estratégico, possibilitando somar o controle do dia a dia com o planejamento futuro, o que gera embasamento para a tomada de decisões e implementação de ações buscando melhores resultados.

Uma gestão eficiente do fluxo de caixa permite que empresários tenham visibilidade completa da saúde financeira da empresa, identificando gargalos e antecipando necessidades. Com essa clareza, é possível agir de forma preventiva em vez de reativa, ajustando políticas de pagamento, reduzindo custos e aproveitando oportunidades de investimento. Sem essa visão, há um risco maior de surpresas negativas, como falta de capital de giro para honrar compromissos essenciais, prejudicando o crescimento sustentável.

Por isso, conhecer e aplicar corretamente as técnicas de gestão do fluxo de caixa é indispensável para empresas de todos os tamanhos. A previsibilidade financeira proporcionada por essa ferramenta contribui para um crescimento organizado e permite que o negócio se prepare para enfrentar crises ou aproveitar momentos favoráveis do mercado.

Quais os benefícios?

Com a gestão do fluxo de caixa é possível manter controle sobre os registros dos recursos financeiro, identificar as sobras e as necessidades de caixa, gerando assim informações para a atingir o equilíbrio financeiro. Em um cenário de equilíbrio, as entradas e saídas de dinheiro do negócio estão equilibradas: em relação a valores o montante de entradas tende a aumentar em relação ao de saídas, e em relação a prazos, temos ajustados os prazos de recebimento dos clientes e os de pagamento dos fornecedores.

Equilíbrio Financeiro!

O objetivo do fluxo de caixa é assegurar a manutenção do equilíbrio das finanças, o que permite gerar um cenário de sustentabilidade para o desenvolvimento do seu negócio. Para atingir este objetivo é preciso contar com conhecimento, métodos e ferramentas.


Passo a Passo

Como fazer?

Neste guia preparamos um passo a passo com as principais etapas necessárias para implementação da gestão do fluxo de caixa no seu negócio.

1. DEFINIR O PLANO DE CONTAS

A primeira etapa para a implementação da gestão do seu fluxo de caixa é definir o plano de contas gerencial do seu negócio. O plano de contas é uma lista de categorias, das receitas e despesas, que classifica as suas movimentações financeiras. Alguns dos benefícios de ter um plano de contas estruturado são:

  • Organização financeira: Facilita o registro e acompanhamento das entradas e saídas.
  • Análise de rentabilidade: Ajuda a identificar quais áreas geram maior lucro ou custo.
  • Previsibilidade e planejamento: Fornece uma base sólida para projeções de fluxo de caixa.
  • Tomada de decisão estratégica: Auxilia na análise de investimentos e controle de despesas.

Importante: O plano de contas gerencial é diferente do plano de contas contábil utilizado por escritórios de contabilidade para fins de registro e demonstração contábil. Seu objetivo é atender as características específicas do negócio e promover uma melhor organização.

O plano de contas gerencial pode ser estruturado considerando as seguintes categorias:

Receitas:

CategoriaDescrição
VendasRecebimentos relacionadas às vendas de produtos e serviços.
OutrasRecebimentos que não estão relacionadas às atividades principais do negócio.
FinanceirasRecebimentos de atividades financeiras, como empréstimos e aplicações financeiras.
InvestimentosRecebimentos proveniente da venda de ativos da empresa, como imóveis e veículos.

Despesas:

CategoriaDescrição
ImpostosGastos relacionadas à impostos.
Custos VariáveisGastos que aumentam conforme as vendas, como matérias primas e insumos de produção.
Custos FixosGastos que não variam conforme vendas, como salários e custos administrativos.
FinanceirasGastos com serviços financeiros, como juros, parcelas, taxas bancárias e etc.
InvestimentosGastos para aquisição de ativos imóveis, veículos, terrenos e etc.

Abaixo temos um exemplo de plano de contas gerencial com as respectivas categorias e contas organizadas:

Receitas (Entradas)

CategoriaSubcategoriaDescrição
VendasVendas de ProdutosReceita da comercialização de itens físicos.
Vendas de ServiçosReceita pela prestação de serviços.
Receitas FinanceirasJuros RecebidosJuros sobre empréstimos concedidos.
Rendimentos de AplicaçõesReceitas de investimentos financeiros.
Outras ReceitasAluguéis RecebidosReceita por locação de imóveis ou equipamentos.
RoyaltiesPagamento pelo uso de propriedade intelectual ou marcas.
Receitas de InvestimentosVenda de AtivosVenda de equipamentos, veículos ou imóveis.

Despesas (Saídas)

CategoriaSubcategoriaDescrição
Custos VariáveisCompra de Matéria-PrimaInsumos necessários para a produção.
EmbalagensMateriais para embalagem e envio.
Fretes sobre VendasTransporte de mercadorias para clientes.
Custos FixosSalários e EncargosPagamento de funcionários e encargos sociais.
AluguelLocação de espaços comerciais ou equipamentos.
Energia ElétricaCustos com eletricidade.
Internet e TelefoniaGastos com telecomunicações.
Manutenção de EquipamentosReparos e manutenção de máquinas.
Despesas Operacionais e AdministrativasMaterial de EscritórioCompra de suprimentos para o escritório.
Honorários ContábeisServiços de contabilidade e consultoria.
Marketing e PublicidadeInvestimentos em campanhas e anúncios.
Despesas FinanceirasJuros de EmpréstimosPagamento de juros bancários.
Tarifas BancáriasCustos com manutenção de contas e serviços bancários.
Multas por AtrasosEncargos por pagamentos fora do prazo.
Impostos e ContribuiçõesICMS, ISS, IRPJTributos sobre vendas e lucros.
INSS, FGTSContribuições sociais e trabalhistas.
InvestimentosCompra de EquipamentosAquisição de máquinas e ferramentas.
Aquisição de VeículosCompra de veículos para uso empresarial.
Obras e ReformasMelhorias na infraestrutura física.

2. REALIZAR O CONTROLE DE CAIXA

Com a definição do plano de contas, a segunda etapa é realizar o controle do fluxo de caixa. O controle é feito através dos dados das movimentações dos recursos financeiros da empresa e classificando com base na definições do plano de contas.

Este controle normalmente é realizado diariamente, no momento em que os fatos são realizados, através das Entradas (Receitas) e as Saídas (Despesas). Nesta função do controle, temos as informações do caixa disponível.

Para completar, podemos agregar o controle das Contas a Receber (Previsão de Receitas) e Contas a Pagar (Previsão de Despesas). Esses dois conceitos estão relacionados ao planejamento financeiro da empresa, são as previsões dos negócios que estão em andamento, do que deve entrar e sair do caixa. Normalmente estes lançamentos são realizado semanalmente, tentando antecipar no mínimo três meses à frente. Somando o caixa disponível aos movimentos previstos, temos uma visão das sobras ou necessidades.

As entradas e saídas são fatos que já ocorreram, então permitem ter informações do Realizado para o caixa. As contas a pagar e a receber, são fatos que não ocorreram, permitem olhar para o futuro tendo dimensão do que está Previsto para o caixa. Além das contas a pagar e a receber no horizonte do caixa podem ser somadas as projeções orçamentárias, também chamadas de receitas e despesas projetadas. A soma dos horizontes de tempo geram uma dimensão Gerencial, onde, contando com o que foi realizado e com o que está previsto, é possível analisar cenários para o caixa futuro.

Trabalhando estas três formas, ampliasse a visão do processo financeiro do negócio, com informações adequadas para assegurar decisões assertivas, minimizando erros, fazendo correções necessárias e uma melhor gestão.

3. ANÁLISE GERENCIAL: INDICADORES E CICLO DE CAIXA

A terceira etapa é realizar uma análise dos itens de controle, e avaliar a situação atual e perspectivas para o fluxo de caixa. Com o controle diário e semanal das movimentações financeiras, a análise tem por objetivo checar os lançamentos conforme alguns pontos:

Vencimentos: Monitorar diariamente os lançamentos previstos e vencidos, analisando credores e devedores

Comportamento: Avaliar os períodos do mês de maior concentração de pagamentos e recebimentos e os prazos médios negociados para pagamento e recebimento

Projeções: Projetar as sobras e necessidades, identificando períodos de maior ou menor liquidez

Geradores e ofensores: Identificar as categorias e contas de receita e despesas que geram maior impacto no caixa

Resultado: Realizar um fechamento mensal avaliando a geração de caixa do negócio e disponibilidades

Ciclo de Caixa: Como Gerenciar o Fluxo de Recursos Eficientemente

O ciclo de caixa é uma métrica fundamental na gestão financeira, pois mede o tempo que a empresa leva para transformar investimentos (como compra de insumos) em dinheiro disponível no caixa. Esse ciclo compreende todas as etapas envolvidas, desde a aquisição de matérias-primas até o recebimento das vendas realizadas. Quanto mais curto for o ciclo de caixa, menor será a necessidade de capital de giro, o que torna a operação mais eficiente e sustentável.

Etapas do Ciclo de Caixa:

  1. Compra de Insumos ou Produtos: A empresa adquire materiais ou mercadorias, registrando uma saída de caixa.
  2. Estoque e Produção: Os produtos permanecem no estoque até que ocorra o período de produção e sejam vendidos, gerando um período em que os recursos ficam “imobilizados”.
  3. Venda e Contas a Receber: Quando a empresa realiza a venda, pode receber à vista ou a prazo. No caso de vendas parceladas, surgem contas a receber, estendendo o tempo até o recebimento.
  4. Recebimento: Assim que o cliente paga, ocorre a entrada de caixa, completando o ciclo.

Cálculo do Ciclo de Caixa:

O ciclo de caixa é determinado pela soma do prazo de estocagem e o prazo de recebimento, menos o prazo de pagamento aos fornecedores.

Fórmula:
Ciclo de Caixa = Prazo de Estocagem + Prazo de Recebimento – Prazo de Pagamento

  • Prazo de Estocagem: Tempo médio que o produto permanece em estoque.
  • Prazo de Recebimento: Tempo médio para receber os pagamentos dos clientes.
  • Prazo de Pagamento: Tempo médio dado para pagar os fornecedores.

Exemplo Prático:

Uma empresa mantém seu estoque por 30 dias, oferece prazo de pagamento aos clientes de 45 dias e tem 20 dias para pagar seus fornecedores. O ciclo de caixa será:

30 dias (estocagem) + 45 dias (recebimento) – 20 dias (pagamento) = 55 dias

Isso significa que a empresa precisa financiar suas operações por 55 dias até que o dinheiro investido retorne ao caixa.

4. TOMAR AÇÕES DE MANUTENÇÃO

O equilíbrio financeiro é resultado da implementação de um bom planejamento, de controles adequados e de decisões assertivas. No último passo temos o processo que busca assegurar o atingimento dos objetivos do fluxo de caixa, através de ações que façam a manutenção do equilíbrio financeiro. Como exemplo de ações de manutenção podemos citar a adequação de prazos com clientes e fornecedores (política comercial e de compras), a redução de custos, o provisionamento em meses anteriores e a cobrança de recebimentos em atraso. Para tomar boas decisões precisamos ter controles confiáveis, análise assertivas e conhecimento em gestão. Além disto, é importante estar atento a algumas situações que podem gerar armadilhas e comprometer o equilíbrio do caixa:

  • A redução de vendas, ou mesmo o aumento sem o devido fôlego financeiro
  • Compras de longo prazo e recebimento em curto prazo gerando sobras de caixa
  • Atraso no recebimento, alta taxa de inadimplência, queda repentina nas vendas
  • Antecipação excessiva de vendas e de recebimentos de títulos a vencer

A Integração entre Plano Financeiro, Orçamento e Controle de Caixa

A integração eficaz entre o plano financeiro, o plano orçamentário e o controle de caixa é fundamental para garantir melhores resultados na sua gestão financeira. Entender a lógica de como cada ferramenta se complementa e que na base do controle está o fluxo de caixa com estruturação correta de contas, categorias e controle de caixa e ciclo financeiro, é fundamental para garantir que o negócio suba os degraus do crescimento.

Abaixo explicamos como esses três componentes se complementam:

  1. O Plano Financeiro Orienta o Orçamento:
    • Os objetivos estratégicos definidos no plano financeiro determinam as prioridades orçamentárias.
    • Exemplo: Se o objetivo é expandir para novos mercados e crescer receitas, o orçamento alocará recursos para marketing e novas contratações.
  2. O Orçamento Serve como Base para o Controle de Caixa:
    • O plano orçamentário define limites e metas para receitas e despesas, que são executadas e monitoradas no controle de caixa.
    • Exemplo: Se o orçamento prevê despesas mensais de R$ 40.000 para anúncios de marketing, o controle de caixa monitora se esses limites estão sendo respeitados.
  3. O Controle de Caixa Retroalimenta o Orçamento e o Plano Financeiro:
    • As variações identificadas no fluxo de caixa ajudam a ajustar o orçamento e até revisar metas financeiras.
    • Exemplo: Se as vendas caem abaixo do previsto, o orçamento é revisado para cortar custos e preservar a liquidez.

Conclusão: A Importância do Controle de Caixa na Gestão Financeira

O controle de caixa é essencial para a saúde financeira e o sucesso sustentável de qualquer empresa. Ele não apenas garante a organização das entradas e saídas de recursos, mas também oferece uma base sólida para o planejamento estratégico e a tomada de decisões assertivas. Quando realizado de forma consistente e integrada ao processo de gestão financeira, o controle de caixa permite identificar riscos antecipadamente, como a falta de capital de giro ou períodos de baixa liquidez, além de proporcionar clareza sobre as sobras financeiras que podem ser reinvestidas.

Uma gestão financeira eficiente, que inclua a previsão e monitoramento contínuo do caixa, ajuda a empresa a evitar surpresas negativas, como inadimplências e atrasos nos pagamentos. Além disso, permite a análise de cenários e a elaboração de estratégias proativas, como a renegociação de prazos com fornecedores ou ajustes na política de cobrança com clientes. Empresas que dominam esse processo ganham mais agilidade para enfrentar desafios de mercado e aproveitar oportunidades de crescimento.

Em resumo, o controle de caixa é mais do que uma prática administrativa – é uma ferramenta estratégica para fortalecer o desempenho financeiro e garantir a sustentabilidade do negócio no longo prazo. Com planejamento adequado, disciplina e uso de ferramentas financeiras, a empresa não apenas evita crises, mas também constrói uma base sólida para inovar, crescer e prosperar de maneira segura.

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