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Modelo de Estrela e o Planejamento Estratégico

Bruno Haas

O conceito da estratégia nasceu de situações de concorrência: guerra, jogos e negócios.  Estratégia é uma palavra herdada dos gregos, que a usavam para designar a arte dos generais e comandantes escolhidos para planejar e fazer a guerra. No início do século XX, o conceito de estratégia chegou ao mundo corporativo e hoje em dia é área vasta, passando por temas como estrutura organizacional, recursos e capacidades, planejamento de longo prazo, metas e objetivos, ameaças e oportunidades, cenários futuros e muitos outros.

Em sua essência o planejamento estratégico é o processo de elaborar a estratégia, a relação pretendida da organização com seu contexto. O processo compreende a tomada de decisões sobre o seu modelo de negócio e o comportamento que a organização pretende seguir.

O planejamento estratégico é o processo de estruturação de um pensamento de futuro com caminhos que a organização deve seguir e os objetivos que quer alcançar.

Podemos dizer que o planejamento estratégico deveria ser capaz de responder 05 perguntas:

  • Como explicar a realidade?
  • Quais os futuros possíveis?
  • Qual o cenário ideal?
  • Como tornar viável o caminho até lá?
  • O que temos que fazer no dia a dia para ter sucesso?

Nos dias de hoje com as constantes e rápidas mudanças nos mercados, principalmente por fatores como novas tecnologia, necessidade de conexão entre o online e off-line, consumidores empoderados, redes sociais, novas gerações, mudanças culturais e muitas outras variáveis que compõe as tendências desta nova economia, flexibilidade é um dos fatores-chave ao lidar com o futuro.

O ambiente de negócios se torna cada vez mais complexo e as constantes mudanças muitas vezes colocam em cheque o planejamento.  Isso por quê, tem se dado pouca atenção às mudanças de cenários e como ter uma estratégia adaptativa frente aos roteiros do planejamento estratégico e de tomada de decisão para gerar um norte efetivo para as ações da organização.

Quando as mudanças e incertezas são maiores, o importante não é predizer o que acontecerá com o mercado ou os concorrentes, mas avaliar as possibilidades para que se possa definir os melhores meios para alcançar os objetivos e os cenários futuros.

Nesta série de artigos iremos falar sobre modelos de planejamento e avaliar os prós e contras e quais ferramentas podem ajudar o seu negócio a adotar maior assertividade na tomada de decisão e condução de ações aos objetivos do negócio.

Planejamento Estratégico Tradicional

O planejamento estratégico tradicional tem origem na administração estratégica e na contribuição de diversos autores e empresas de consultoria que desde a década de 1960 vem se aplicando a todos tipos de organizações. No final dos anos 70 consolidou-se o conceito da administração estratégica e o processo que compreende o planejamento estratégico e a sua implementação.

Aqui se aplica o planejamento clássico ou preditivo, que pressupõe uma razoável estabilidade, capacidade de prever o futuro e de projetar o negócio 3 a 5 anos à frente. O desafio do planejamento estratégico é a definição de caminhos para uma posição competitiva melhor no seu mercado.

O planejamento estratégico tradicional tem sua essência na definição do norte, ou seja, o foco central de atuação e como serão alcançadas as necessidades da organização. Para isto é importante refletir sobre o compromisso que o engloba o negócio, seus funcionários, os clientes e a sociedade. Foco não consiste apenas em definir o que será feito, mas também o que não será feito.

A definição de posição estratégica consiste em entender a melhor forma de se defender das forças ou aproveitar das competitivas. Para Michael Porter, professor da Harvard Business School, cada empresa que compete em um mercado pode definir uma estratégia competitiva, e para isso, indica os seguintes passos:

  1. Compreender o seu mercado e avaliar tendências
  2. Analisar a concorrência e a posição do próprio negócio frente a eles
  3. Formular uma estratégia competitiva

Para o início de qualquer ciclo de planejamento, a estratégia é analisada segundo duas perspectivas principais:

  • Decisões do passado:

Chamada de situação estratégica, o presente retrata o comportamento histórico da organização, de um ponto qualquer no passado até o momento.

  • Decisões presentes:

São as decisões que estão sendo tomadas que afetam o futuro da organização. São os planos estratégicos que procuram de definir as ações da organização daqui para frente.

Seja para analisar o passado ou para definir o futuro o planejamento estratégico convencional aborda 05 componentes da estratégia.

05 componentes da estratégia

O Modelo Estrela de Galbraith, criado pelo teórico organizacional Jay R. Galbraith em 1982, é uma das abordagens mais reconhecidas para estruturar a gestão estratégica dentro de uma organização. O conceito nasceu da necessidade de alinhar os diversos componentes de uma empresa em torno de uma estratégia clara e eficaz. Galbraith identificou cinco componentes essenciais para o sucesso de qualquer estratégia: Estratégia, Estrutura, Processos, Pessoas e Recompensas.

Esses cinco elementos, quando alinhados de forma integrada, permitem que a organização se mantenha coesa e eficaz na implementação de seus objetivos. O modelo parte do princípio de que a estratégia deve ser o ponto de partida e que todos os outros componentes devem ser adaptados e ajustados para garantir sua execução eficiente. A estrutura organizacional define como o trabalho será distribuído, os processos garantem o fluxo das atividades, as pessoas trazem as competências necessárias e as recompensas incentivam os comportamentos que sustentam o plano estratégico.

O Modelo Estrela ajuda as empresas a criar um sistema robusto e equilibrado, capaz de suportar tanto a competitividade do mercado quanto as mudanças inevitáveis no ambiente de negócios

1. Estratégia

No centro do Modelo Estrela está a Estratégia, que define a direção geral da organização. A estratégia estabelece o foco e as metas da empresa, orientando as decisões sobre alocação de recursos e definição de prioridades. Ela responde à pergunta: Onde a empresa quer chegar e como pretende alcançar esse objetivo?. Toda a organização deve girar em torno dessa estratégia, sendo que os outros componentes do modelo — estrutura, processos, pessoas e recompensas — precisam estar alinhados para garantir que a empresa avance nessa direção.

2. Estrutura

A Estrutura organizacional define como o trabalho será distribuído e como as responsabilidades serão delegadas dentro da empresa. Isso envolve a definição de hierarquias, divisões de função, departamentos e equipes. No Modelo Estrela, a estrutura deve ser desenhada de forma a permitir que a estratégia seja executada de maneira eficiente. A estrutura pode ser mais centralizada, com uma hierarquia rígida, ou mais descentralizada, com autonomia nas diferentes unidades, dependendo da natureza da estratégia da organização.

3. Processos

Os Processos são os mecanismos pelos quais o trabalho é realizado na organização. Eles incluem os fluxos de trabalho, sistemas de comunicação e tomada de decisões. Os processos precisam garantir que as atividades do dia a dia fluam de maneira eficiente, garantindo que as diferentes áreas da empresa trabalhem de forma integrada e coordenada. No modelo de Galbraith, os processos desempenham um papel fundamental, pois asseguram que a estrutura organizacional seja funcional e que as decisões sejam tomadas em linha com a estratégia.

4. Pessoas

O componente Pessoas se refere ao talento humano da organização. Envolve não apenas o recrutamento e a seleção, mas também o desenvolvimento contínuo, a capacitação e o gerenciamento de talentos. Para que a estratégia seja bem-sucedida, a empresa precisa ter as pessoas certas nas posições certas. O Modelo Estrela de Galbraith destaca a importância de alinhar as habilidades e competências dos colaboradores com as necessidades estratégicas da organização. Além disso, a cultura organizacional e os valores dos colaboradores devem estar em sintonia com os objetivos da empresa.

5. Recompensas

O último componente do modelo são as Recompensas, que dizem respeito à forma como a empresa incentiva e recompensa seus colaboradores. Isso pode incluir compensação financeira, benefícios, promoções e até reconhecimento público. O importante é que as recompensas estejam alinhadas com os comportamentos e resultados desejados pela estratégia. Quando os incentivos corretos estão em vigor, os colaboradores são motivados a agir de maneira que apoie a execução eficaz da estratégia organizacional.

Integração dos Componentes

O Modelo Estrela de Galbraith destaca que todos esses cinco componentes — estratégia, estrutura, processos, pessoas e recompensas — devem estar alinhados entre si para que a organização funcione de maneira eficiente. Estratégia é o ponto de partida, mas sem uma estrutura adequada, processos eficazes, as pessoas certas e um sistema de recompensas que motive os comportamentos corretos, a estratégia falhará. Cada componente desempenha um papel vital na execução do plano estratégico e, juntos, garantem que a empresa possa se adaptar e prosperar em ambientes de negócios em constante mudança.

Esse modelo permite que as organizações tenham uma visão clara de como alinhar seus recursos internos com seus objetivos estratégicos, resultando em uma execução mais eficiente e em um desempenho mais consistente ao longo do tempo.

Como implementar o Planejamento Estratégico e quais ferramentas utilizar?

O planejamento estratégico segue um processo sistemático com uma sequência de análises e decisões compreendendo as etapas e passos organizados. Abaixo listamos um modelo de etapas que parte do princípio que é necessário planejar, colocar em prática, acompanhar e avaliar a estratégia, em um loop de melhoria contínua.

1. Identidade Organizacional:

É o conjuntos de elementos que compõe a cultura organizacional e as suas perspectivas de futuro. Nesta etapa são definidos 03 elementos base de qualquer organização:

  1. Missão: O motivo de existência da organização, ou seja, o propósito da empresa
  2. Visão: O sonho da empresa, onde deseja chegar e, geralmente, estipula um período para isso, normalmente um período de 3 a 5 anos
  3. Valores: são compostos pelos princípios guiadores da empresa, os comportamentos para cumprir a missão e a visão

2. Análise do ambiente:

A análise do ambiente busca atingir uma adequação entre as capacidades internas e as possibilidades externas do negócio. Para isso uma ferramenta utilizada é a análise SWOT, onde se faz uma analise aprofundada do ambiente interno (forças, fraquezas) e ambiente externo (oportunidades e ameaças) e do cruzamento destes fatores.

Na análise do AMBIENTE INTERNO são mapeados fatores internos e classificados como forças ou fraquezas. Esta lista busca destacar os recursos e competências principais em que a empresa tem desempenho abaixo da concorrência (fraquezas) ou que representam diferenciais para a organização (forças).

Na análise do MACRO AMBIENTE busca-se identificar fatores externos que podem auxiliar a empresa a atingir seus objetivos (oportunidades) ou que podem atrapalhar este percurso (ameaças). Para isto, os fatores podem ser divididos conforme as variáveis: ramo de negócio, ações de governo, tecnologia, conjuntura econômica, sociedade e ambiente competitivo (rivalidade entre concorrentes).

Os fatores são priorizados e posicionados na Matriz SWOT, onde temos os 4 quadrantes: Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças. Após, cruza-se os dados mapeados, o que facilita a tomada estratégica de decisões.

  • O cruzamento entre forças x oportunidades implica em decisões que tirem o máximo proveito das forças, a fim de aproveitar as oportunidades.
  • O eixo forças x ameaças traz iniciativas que a empresa pode utilizar para minimizar as ameaças.
  • O eixo oportunidade x fraquezas sugere ações que otimizem os pontos fracos, a fim de aproveitar as oportunidades.
  • Por fim, o eixo fraquezas x ameaças envolve pensar em iniciativas que minimizem os pontos fracos, e, se possível, também contribuam para diminuir as ameaças.

3. Formulação Estratégica:

Na formulação estratégica é realizada a formulação dos objetivos e metas do negócio, definidos visualizando um horizonte de tempo menor em relação à visão, normalmente sendo traçados para um ano. Os objetivos são marcos tangíveis do que se pretende alcançar, e as metas, o detalhamento (em números) do resultado que se deseja. Para definição de Objetivos e metas uma prática chamada de SMART. Nela cada objetivo e meta deve atender aos critérios:

Outra ferramenta que auxilia na formulação estratégica é o BSC. O Balanced Score Card (BSC) permite de forma visual formular e analisar a estratégia da empresa através de 04 perspectiva, e assim estipular objetivos futuros e métricas, gerando um mapa estratégico.

  • Financeira: Para sermos bem sucedidos financeiramente como devemos ser vistos por nossos acionistas?
  • Clientes: Para alcançarmos nossa visão como nossos clientes devem nos ver?
  • Processos internos: Para satisfazermos nossos clientes em que processos devemos alcançar a excelência?
  • Aprendizado e crescimento: Para alcançar nossa visão, como sustentaremos nossa capacidade de desenvolvimento?

Um mapa estratégico é um gráfico que mostra uma conexão lógica de causa e efeito entre os objetivos estratégicos. É um dos elementos mais poderosos do BSC, pois é usado para comunicar rapidamente como o valor é criado pela organização.

Cada objetivo é desdobrado em um ou mais indicadores, os quais, por sua vez, recebem uma meta e têm uma ação estratégica atrelada. Esta é a lógica por trás do BSC, onde a ideia central é a conexão entre as perspectivas, e o atingimento da visão de futuro traçada sistemicamente.

Normalmente se inicia com os objetivos financeiro e a partir destes objetivos são pensados uma série de outros objetivos que estejam alinhados com a visão de futuro e a missão do negócio, e que auxiliem ou impactam nestes objetivos, através de uma relação de causa e efeito.

As ações estratégicas servem como guias de execução para a organização, sendo necessário ainda o seu desdobramento em planos de ação mais detalhados, atrelando as equipes com o dimensionamento de recursos e demais variáveis de execução.

4. Desdobramento

O planejamento estratégico deve ser desdobrado em nível de execução e, por isso, é essencial que todos se alinhem com as ideias, não só os gestores e diretores.

Para motivar cada colaborador com as ações, é imprescindível que o planejamento faça sentido e contemple o trabalho de cada uma das pessoas da empresa. Uma das formas de realizar este desdobramento é a implementação de planos de ação usando o modelo 5W2H para cada objetivo e meta estabelecido.

O 5W2H é uma ferramenta de planejamento de ações que busca responder a 5 perguntas:

  • (WHAT) O quê? qual é ação que está sendo planejada
  • (WHY) Por quê? por que isso precisa ser feito
  • (HOW) Como? quais serão as etapas e trabalhos realizados
  • (WHO) Quem? quais colaboradores participarão
  • (WHEN) Quando? quando cada uma das ações irá iniciar e terminar
  • (HOW MUCH) Quanto? qual o valor financeiro necessário para a execução

Assim a estratégia poderá chegar no dia a dia da empresa com uma definição clara dos componentes de execução.

5. Monitoramento

O monitoramento do planejamento consiste em acompanhar e avaliar a execução da estratégia. Isso ocorre com a análise dos indicadores e metas definidas. Atrelado ao uso de ferramentas como BSC e planilhas de controle para execução dos planos de ação, é importante que a empresa estabelece as regras e acordos com os times para uma gestão participativa do planejamento valorizando a participação de todos níveis hierárquicos. Alguns exemplos de práticas que podem amplificar o processo de monitoramento são:

  • Painéis visuais de acompanhamento de resultados
  • Status report periódico para as equipes e gestores
  • Reuniões de análise de problemas e brainstorming
  • Mecanismos de sugestões e opiniões da equipe sobre a execução dos planos
  • Marcos de replanejamento

Conclusão

Em conclusão, o planejamento estratégico não é apenas sobre prever o futuro, mas sobre preparar a empresa para se adaptar, reagir e aproveitar as oportunidades que surgirem. Na série de artigos a seguir, vamos explorar modelos de planejamento, analisar prós e contras e destacar ferramentas que podem ajudar sua organização a tomar decisões mais assertivas e alcançar seus objetivos.

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